A mãe Maria das Dores
Sítio Prazeres Assaré
Onde na agricultura
Sempre faziam fartura
Sempre faziam fartura
E tinham recurso até.
05. Antonio inda muito jovem
Foi pra o sul do Paiz
Lá se empregou muito bem
Trabalhou e foi feliz
Depois de quase dez anos
Veio visitar pais e manos
Seu lar, e sua matriz.
06. Ao visitar sua terra
Seu pai e sua mãe querida
Frequentou alguma festa
Com um jovem encontrou
A quem êle dedicou
Todo amor da sua vida.
07.Residia em Santo Amaro
Aquela menina bela
Seu pai José Lourenço
Antonia Fialho a mãe dela
Das jovens daquela vila
A mais calma, a mais tranquila
E mais atraente donsela.
08. Era Francisca seu nome
Por Francilúcia chamada
Desecete primaveras
Sua idade aproximada
A qual jurou para Catonio
Que um dia em matrimonio
Segueria a sua estrada
09. Êle o mesmo juramento
Firmou as mãos lhe beijando
E uns dias após as juras
Novamente ao sul voltando
Èsse rapaz viajou
E Francilucia ficou
Firmemente lhe esperando.
10. Uns dois anos mais ou menos
O jovem do sul vivia
Trabalhando em um bom emprêgo
Uma diversão não ia
Ganhando e economizando
Comprando móveis e guardando
Esperando o feliz dia.
11. Tanto fez economia
que boa soma guardou
depois de comprar os móveis
e pra casar se arrumou
resolveu voltar ao norte
pra saber se sua sorte
estava como deixou.
12. Disse alguém que aquela jovem
Que lhe esperando ficou
Sem receber cartas dêle
Um pouco a estrada mudou,
De alguém estava sendo chamada
Mas ficou preocupada
Ao saber que êle chegou
13. Quando Francilucia soube
Da noite alvissareira
Da chegada de Catonio
Disia não sou grosseira
Serei dêle, e êle meu
Uma carta lhe escreveu
Dizendo desta maneira.
14. - Meu bem soube que você
Veio aos seus pais visitar
Aqui estou te esperando
Pra de novo te abraçar
Te entregar minha alma pura
Pra saber se é a jura
De amor, está sem quebrar.
15. Se vieste na intenção
De ainda gostar de mim
eu penso da mesma forma
És meu anjo querubim
Venha pedir-me aos meus pais
Que serei tua e jamais
o nosso amor terá fim
16. Êle recebendo a carta
A mesma nem respondeu
E dentro de poucos dias
Em sua casa apareceu
Pediu-lhe em casamento
Declarou o plano seu.
17. Declarou já ter comprado
Linda casa na cidade
Tinha comprado os móveis
Que havia necessidade
Comprou os enxovais
Alianças núpciais
Carimbo da amisade
18. Uniram-se os pais dos jovens
Foram botar os pápeis
Na Igreja e no cartório
No curto prazo de dez
Dias marcaram o noivado
Mas o destino malvado
mudou todos os paíneis.
19. Ao marcarem o casamento
O padre não concordou
Porque Catonio no Sul
Bastante tempo passou
Pra contrair a união
Uma justificação
O padre então lhe cobrou.
20. Catonio inda foi até
Ao Juazeiro do Norte
Não prosseguiu a viagem
A fêz quase por esporte
Mas recebeu um escrito
Para que em Farias Brito,
Receber sua consorte.
21. Dia dez de dezembro
No cartório de Assaré
Eles casaram civil
pra poder tomar pé
A vinte e um com praser
Iriam para receber
O sacramento na Sé.
22. Na vila de Santo Amaro
Reuniram-se os parentes
Do rapaz e da donsela
velhos e inocentes
enquanto comiam e bebiam
os convidados diziam
são lindos os nubentes.
23. Exatamente os dois jovens
Se pareciam demais
Alturas fisionomias
Nas cores eram iguais
Era o dito em geral
Este é o mais lindo casal
Entre todos os casais.
24. Depois de prontos seguiram
Direto a Farias Brito
As nove horas se casaram
Oh que momento bendito
Noivo belo, noiva linda
Ninguém tinha visto ainda
Noivado assim tão bonito.
25. Muito bem acompanhados
Na maior animação
Como padrinhos dos noivos
Uma cunhada e um irmão
Um vereador e seu par,
Aquela bela união.
26. Os padre os abençoou
recomendou muito bem
Depois, como de costume
Que todo noivado tem
Se divertiram, brincaram
Muitos parabéns cantaram
Vivas e palmas também.
27. Duas C-10 bem lotadas
Partiram então da cidade
Dando vivas, desejando
Aos noivos felicidade
Cada um mais sorridente
Sem saber que estava a frente
A maior calamidade.
28. Logo próxima a cidade
Tem uma grande ladeira
cheia de abismos e curvas
A mais alta costaneira
Que quem ali transitava
De mêdo se arrepiava
Já temendo a bagaceira.
29. Precisando ter coragem
Muita prática em dirigir
Bom carro, bom motorista
Resar e se prevenir
Que quem no abismo caísse
Não via mais quem visse
Vivente algum resistir.
30. O carro que vinha os noivos
Os padrinhos e mais gente
Onde o próprio testemunho
Dirigia velozmente
Bem no pico da ladeira
Sobrou a roda traseira
virou repentinamente
31. Alguém contou que assistiu
Do início do acidente
O carro deu vários tombos
Saiu derramando gente
Os primeiros que caíram
Todos êles se feriram
Veio o pior bem na frente.
32. Depois de vários tombos
A cabine se partiu
Caiu o capu do carro
Tão longe que quem viu
Pelos escombros decendo
Uns gritando outros gemendo
Quem passou por perto, ouviu.
33. Quem vinha no outro carro
Ao ver estacionou
Parou para socorrer
Os do carro que virou
No meio da triste cena
Todo mundo sentiu pena
Quando no ponto chegou.
34. Foram encontrando o povo
Um tombando, outro caído
Um com pernas fraturadas
Outro com o corpo ferido
Quando encontraram de lado
O noivo era finado
E a noiva tinha morrido.
35. Grande aflição nessa hora
Aquela gente assistia
Quando os padrinhos dos noivos
Para o outro lado se viu
Ela aos gritos ao chão
E êle em situação
Que mal alguém conhecia.
36. Aquele vereador
Estava no chão caído
Por ser êle o motorista
E ter mais tempo resistido
Aos sopapos do transporte
Estava as portas da moda [morte]
Tendo depois falecido.
37. Socorrido por terceiros
Foram todos transportados
Na medida do possível
Pros logares indicados
Os doentes pra tratar
Agora vamos falar
Dos pais dos recém-casados.
38. Quando chegou a notícia
Do triste acontecimento
Foi o maior absurdo
Por minha vez analizo
Era um dia de juízo
E não de divertimento
39. Choravam muitas famílias
Desde o adulto a criança
Entristeceram-se os parentes
Chorou toda a vizinhança
Juntos em prantos iguais
Pra fazer os funerais
Deixando a triste lembrança.
40. Dois caixões emparelhados
Via-se ali no salão
Da casa dos pais da jovem
Que com dor no coração
Sofreram o mais triste drama
Que quem assistiu exclama
Oh cruel situação.
41. Tiraram fotografias
No patamar da Capela
Os dois caixões bem juntinhos
E a resar por êle e ela
Levaram ao Campo Santo.
Não há quem calcule o quanto
Já ao lado dêle e dela.
42. Ao entrar no Cemitério
Já estava a cova aberta
Pronta para os dois caixões
Lá na casa descoberta
A mão de Deus nunca erra
Escolheu aqui na terra
Pros dois a morada certa.
43. De nada adiantou
Casa linda na cidade
Lindos móveis, tanto luxo
São coisas de vaidade
Deus achou não ser preciso
Lhes doou no paraíso
A feliz eternidade.
44. Sejam bem aventurados
Na corte celestial
Gosando as coisas divinas
Da morada principal
Vivendo santos amores
Com o perfume das flores
Da coroa virginal.
45. Mil desculpas pedirei
Inda aos pais dos falecidos
Como também aos leitores
Em meus versos redigidos
Narrando este episódio
Onde forem concedidos.
46. Para descrever o caso
Era pelos meus intentos
Rogar pra que todos descem
Encêjo e concentimentos
Imaginei descrevi
Remeti e transmitir
A todos meus sentimentos.
© Os direitos autorais dessa obra pertencem ao poeta Miceno Pereira. O objetivo dessa postagem é para que outras pessoas tomem conhecimento acerca dessa história, que até hoje se perpetua na memória dos familiares das vítimas, como pelos moradores que vivenciaram ou ouviram falar este fato na sua juventude.