25 de dezembro de 2019

Biografia do Padre Jesuíta, Adalberto Holanda Pereira - Por Guilherme Pereira

Pe. Adalberto, em imagem cedida por Dedi Timóteo.
Adalberto Holanda Pereira, apelidado pelos mais íntimos de Dóia, nasceu em Araticum como era antigamente chamado o distrito de Quincuncá, em Quixará (hoje Farias Brito-CE). Quanto a sua data de nascimento, há divergência: nos documentos pessoais, consta 09 de julho de 1927, e já no assento batismal, 09 de novembro de 1927. É mais provável, no entanto, pelo testemunho de sua irmã Maria da Salete Holanda Rocha, que o mês de seu nascimento seja, de fato, novembro.
Filho do comerciante Herculano Pereira e Silva (1904-1985) e da costureira Maria Francisca de Holanda “Cotinha” (1902-1969), ele era o 2° de uma família de oito irmãos: Aderson (in memoriam), Anilberto (in memoriam), Albertina, Carmelita, Carmelina, Maria da Salete, Gilberto (in memoriam), Shirley, além de Mandu Holanda (in memoriam) e Maria Lavínia (in memoriam), filhos do primeiro matrimônio de sua mãe, do qual ela ficou viúva, em 1923.
Adalberto, foi batizado pelo Pe. Alzir, de Assaré. Clique na imagem para ampliar. 
De acordo com o livro microfilmado de batismos n° 04, fl. 60 verso, da Paróquia de Assaré, localidade a quem pertencia Araticum (atual Quincuncá), Adalberto foi batizado pelo Padre Alzir Sampaio, na Capela de São José, no dia 19 de março de 1928. 
Em sua terra natal, cursou as séries iniciais com a professora Maria Telina Almeida (1908-2009), que também era sua madrinha. E mais tarde foi encaminhado, junto com os irmãos, para estudar na Escola Apostólica de Baturité (inaugurada em 1927), conhecida como Mosteiro dos Jesuítas. Tendo despertado a vocação, ingressou na Companhia de Jesus, aos 20 anos, em 01 de fevereiro de 1947. 
Formou-se em filosofia e teologia em São Leopoldo (RS). Em 1956, durante o magistério, iniciou seus trabalhos entre os índios na Missão de Utiariti (ou Missão Anchieta) em Diamantino (MT). Em 08 de dezembro de 1959, aos 32 anos, foi ordenado sacerdote na Igreja de Cristo Rei em Fortaleza, por Dom Antônio de Almeida Lustosa. E em 25 de dezembro do mesmo ano, celebrou a 1ª Missa na Capela de São José em Quincuncá, onde sempre retornava nas férias e ministrava o catecismo.
Após a ordenação sacerdotal, cursou antropologia na Universidade de São Paulo. Como fruto das experiências, em cada uma das missões indígenas católicas, editou o diretório indígena, para a Missão do Diamantino, conjunto de propostas aos missionários que trabalhavam nas aldeias atendidas pela prelazia. Promoveu ainda junto com ao então Secretário Nacional de atividade missionária, o Seminário Missionários – Antropólogos, onde se editou o documento de Morumbi, do Instituto Social Justiça e Paz, de fevereiro de 1968, base da renovação missionária indigenista, que culminou com a criação do Conselho Indigenista Missionário (CIMI), em 1972.
Terminado o curso, passou a viver na Missão do Diamantino, onde participou das primeiras ações em contato com os índios Mynky no córrego escondido, Ená-wenénawe (margem esquerda do Rio Jurema), e os Beiço-de-pau, no vale do Rio Arymos, onde foi atacado por mais de uma vez, sendo em uma delas flechado numa das coxas, tendo sido salvo pelo Padre Antônio Iasi Junior (1920-2015), que lhe tratou o ferimento.
Como professor pesquisador do Museu Rondon, da Universidade Federal de Mato Grosso, dedicou-se ao estudo dos mitos. Através de diálogos com índios conhecedores das tradições tribais, tornou-se fluente com a família linguística do tupi guarani, do tronco Tupi, rikbákta, halotesú, hilíti e Manôki. De tal modo, que sua irmã, Maria da Salete, considerou que “ele falava tanta língua, que se perdia”.
Por meio dos seus estudos, compôs uma vasta obra: Vocabulário da língua dos Irántxe (1964), Pequeno vocabulário da língua dos índios Cinta-Larga (1966), A pacificação dos Tapayúna (1967-1968), Os Espíritos Maus dos Nanbikuara e Quinze Lendas dos Rikbaktsa (1973), A morte e a outra vida dos Nanbikuara: Lendas dos Índios Nanbikuara (1974), Lendas dos índios Iránxe (1974), História dos Munkü (Iránxe), em co-autoria com Pe. José de Moura e Silva (1976). Ambos publicados em revistas especializadas de antropologia, a maioria pelo Instituto Anchietano de Pesquisas – IAP, de São Leopoldo-RS.
Editou também os trabalhos magistrais de síntese: Pensamento Mítico dos Nambikwára (1983), Pensamento Mítico dos Iranxé (1985), O pensamento mítico dos Paresi, em dois volumes (1986 e 1987), Pensamento mítico do Rikbáktsa (1994) e Pensamento mítico do Kayabi (1995). Além de informações sobre Missionários falecidos, como Santa Terezinha do Mangabal do Juruena e Katukolosu e Tupxí. Este último eternizado em sua obra “Tupsi: O índio da paz”, publicado pela editora Loyola, em 1995. Ainda tendo sido vigário na Paróquia de Nossa Senhora do Rosário e São Benedito, em Cuiabá.
Missionário, etnólogo e intelectual, o nome Adalberto projetou-se no Brasil e no mundo, por meio de seus trabalhos, que trouxeram informações sobre culturas de grupos até então desconhecidas, abrindo assim caminhos não só para jesuítas, mas para pesquisadores. Faleceu em São Paulo, em 30 de março de 1996, aos 68 anos, e foi sepultado no Cemitério Santíssimo Sacramento, deixando saudades e acima de tudo, um legado que, infelizmente, poucos Quincuncaenses (e Fariasbritenses), conhecem.

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FONTES: 
*SILVA, Padre José de Moura e. Informativo da Prov. do Brasil Meridional, ano XXX, 1996, n° 327;
*SANTOS, João Vieira dos. A Gazeta, Cuiabá, edição de 28 de abril de 1996;
*Livros eclesiásticos da Paróquia de Assaré-CE | Acervo do DHDPG - Diocese do Crato-CE:
-Matrimônios n° 16, p, 02, n° 04 - Cerimônia religiosa de Cornélio José de Araújo & Maria Francisca de Holanda, na Capela de São José do Araticum (Quincuncá), em 18 de março de 1919;
-Livro de óbitos n° 12 , p, 59 e verso, n° 26. - Óbito de Cornélio José de Araújo - 23 de janeiro de 1923;
-Livro de matrimônios 16, p, 148 e verso, n° 02 - Casamento religioso de Herculano Pereira e Silva & Maria Francisca de Holanda, na Capela de São José do Araticum (Quincuncá). 19 de março de 1925;
-Livro microfilmado de batismos n° 04, (1927-1929), p, 60v, n° 62 - Batismo de Adalberto - 19/03/1928;
*Óbito de Aderson Holanda Pereira (*23/03/1926  +23/03/1953) - Caderno de óbitos-02, fls 20/21 - Cartório de Registro cívil de Quincuncá | Cartório Moreira 1° Ofício - Farias Brito-CE;

Depoimentos: 
*Antonia Rodrigues (in memoriam). Entrevista concedida em 21 de outubro de 2015;
*Maria da Salete Holanda Rocha - 22 de fevereiro de 2018;

Websites consultados: 
-Portal WorldCat. Disponível em: <https://www.worldcat.org/search?q=au%3APereira%2C+Adalberto+Holanda.&fq=&dblist=638&start=31&qt=page_number_link> Acesso em 26 de novembro de 2019;
-Instituto Anchietano de Pesquisas - IAP / São Leopoldo-RS Disponível em: http://www.anchietano.unisinos.br/publicacoes/antropologia/anteriores.html> e <http://www.anchietano.unisinos.br/historico/historico.html> Acesso em 27 de novembro de 2019;
-Pontifícias Obras Missionárias. Disponível em: <http://www.pom.org.br/kiwxi-o-missionario-jesuita-que-se-fez-indio/> Acesso em 27 de novembro de 2019;
-Portal de Revistas da USP - (Revista de antropologia): Disponível em: <http://www.revistas.usp.br/ra/article/view/110740> e <http://www.revistas.usp.br/ra/article/view/110753> Acesso em 27 de novembro de 2019;
-Instituto Humanitas Unisinos. Disponível em: <http://www.ihu.unisinos.br/noticias/541114-morreu-padre-iasi-cofundador-do-cimi-e-da-cpt> Acesso em 28 de novembro de 2019;
-Acervo do Instituto Socioambiental - ISA. Disponível em: <https://acervo.socioambiental.org/taxonomy/term/12283> Acesso em 28 de novembro de 2019;
-Portal Mato Grosso - verbete. Disponível em: <http://www.portalmatogrosso.com.br/municipios/porto-esperidiao/matopedia/pereira-adalberto-holanda/22997> Acesso em 28 de novembro de 2019;
-Livros períodicos da Unitins. Disponível em: <https://www.unitins.br/nuta/arquivos/acervo_periodicos.pdf> Acesso em 28 de novembro de 2019;
-SILVA, Joana A. F. - Utiariti - A última tarefa, Missionários e índios na ocupação de Mato Grosso. Monografia para a obtenção do título de licenciado e bacharelado em História, Departamento de História, CLCH, UFMT, Cuiabá, Brasil. Disponível em: <http://www.geocities.ws/indiosbr_nicolai/textos/txt010ut.html>  Acesso em 01 de dezembro de 2019;
-Paróquia de Nossa Sra. do Rosário e São Benedito, Cuiabá. Disponível em: <http://www.paroquiadorosariomt.com.br/p/nossos-parocos.html> Acesso em 02 de dezembro de 2019.

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