30 de abril de 2021

A história de uma educadora: Maria Telina Almeida (1908-2009), e sua atuação em Quincuncá - Por Guilherme Pereira

Telina Almeida na velhice - Cedido por sua irmã, Terezinha Almeida
Obs: Para um melhor enquadramento no anexo de compartilhamento, foi adicionado duas bordas brancas, fato que não altera consideravelmente o arquivo original, e que fica visivel apenas caso clique na imagem. 

    Maria Telina Almeida, nasceu na antiga Vila Quixará, atual município de Farias Brito-CE, no dia 18 de março de 1908, sendo a 2ª filha do comerciante, Joaquim Pereira de Almeida e da doméstica, Antônia Benevenuto Ribeiro, que dispunham de boas condições financeiras na época. Tinha como irmãos legítimos: Aristóteles, Stelina, Aristóbulo, Quodivolto, Stela, Noélia, Clélia, Iêda, Maria Elita, Wilson e Weliton, além de Berchmans, Demócrito, Maria Altenildes, Francisca Zila, Diógenes, José e Terezinha Almeida, filhos do 2º matrimônio de seu pai, com Julieta Filgueiras Amarante em maio de 1921, após ficar viúvo. 

Julieta Filgueiras & Joaquim Pereira, respectivamente a madrasta e o pai de Telina Almeida.
Foto cedida por Terezinha Almeida / Imagem melhorada no aplicativo MyHeritage.

   Ao que se sabe, Telina ficou órfã de mãe muito jovem, tendo recebido o sacramento do batismo ainda em sua terra natal, conforme seu assento batismal: 
"MARIA, filha legítima de Joaquim Pereira de Almeida e Antonia Benevenuto Ribeiro. Nasceu a 18 de março 1908, e baptizou-se no dia 26 de abril do mesmo anno, pelo Pe. Joaquim Sother solenemente na Capela de Quixará. Foram seus padrinhos João Gomes Pereira e Anna Fiel de Almeida paraconstar fiz este termo que assigno. O Vigário José Fernandes de Medeiros". (Livro de batismos 05, 1869 - 1915, arq. 4129292_00660).
    Ao longo de sua vida centenária, Telina desempenhou ofícios ligados ao magistério e a Igreja Católica, em Assaré, Iguatu e Quincuncá (Farias Brito-CE). Entretanto, os detalhes dessas duas primeiras cidades serão descritos aqui de forma concisa, o foco voltará-se a sua história de vida na comunidade serrana.
   Antes de rememorar o tempo de sua estadia na comunidade, é necessário, contudo, contextualizar a forma de como se fazia educação nos tempos de outrora. Conforme depoimentos, as professoras dessa época eram chamadas de polivalentes porque ministravam todas as matérias. Além de ter que dominar todas as disciplinas, sofriam com o atraso no pagamento dos salários, algo que era tolerável para o pensamento da época, que julgava que deveria ser ensinado por amor, e não por interesse econômico.
  Naquele momento, o magistério estava muito atrelado à questão religiosa, de modo que a preparação da 1ª Eucaristia e do Crisma competiam a estes educadores, que assumiam a função de catequistas. A organização de festividades locais, como coroações e outros eventos religiosos também eram  incumbidas a Telina Almeida, pelo fato de ser membra da Pia União das Filhas de Maria.
   No que refere-se a esta congregação da Igreja Católica, convém destacar que ela era composta apenas por moças solteiras, que deveriam observar no dia-a-dia, o cumprimento de ensinamentos contidos no Manual da Pia União. Dentre outras coisas, a obra recomendava o cultivo da castidade, da obediência e da caridade, privando-se de bailes dançantes e do uso de vestimentas curtas ou com decote, consideradas como indecentes e extravagantes. Por todo esse comportamento adotado e assiduidade religiosa tais mulheres eram vistas como exemplos de moral, sendo convidadas para assumir o papel de madrinhas em cerimônias da instituição sejam no âmbito oficial (batismo, confirmação "crisma" e matrimônio), como popular como madrinha de fogueiras. 

Telina Almeida com cerca de 30 anos - Cedida por Terezinha Almeida / Melhorada no aplicativo MyHeritage.
Essa era a provável aparência da biografada quando desempenhou o magistério em Quincuncá. 

   Mas voltando a trajetória de Telina como educadora, estima-se que a sua atuação em Quincuncá tenha ocorrido em meados da década de 1930, já que em 1938, conforme sua irmã Terezinha Almeida, ela foi transferida para Assaré, retornando para Quincuncá provavelmente no início dos anos 1940, contra sua vontade, onde permaneceu lecionando mais algum tempo, sendo transferida posteriormente à Iguatu, encerrando finalmente sua atividade no magistério já em Assaré. 
    Nesse período de acordo com alguns  narradores entrevistados, todos com mais de 90 anos, Telina era responsável por ministrar aulas de 1ª a 4ª série, à começar pelo ensino da Carta do ABC. Entre seus alunos figuraram: Mandu, Aderson e Adalberto Holanda, Filemon, Ruben e Luís (filhos de Ciro do Belo Horizonte), Marcelino Pereira, Benjamim Pereira, Alderico Costa, Lindalva Rodrigues, Maria Gertrudes, Hilda Almeida, Francisca "Tica de Banâ", Felismina "Minô", Daltina, Elisa Moreira, Almerinda Costa, dentre outros. 
    As turmas por sua vez eram separadas para homens e mulheres. As aulas ocorriam geralmente das 07:00h às 11:00h, na casa do seu pai, Joaquim Pereira, que nesta data também habitava no Distrito. Um fato interessante é que Telina não fazia uso de um relógio convencional, ela baseava-se apenas no movimento do sol, para identificar a hora. Com relação a metodologia de ensino, Maria Gertrudes Ferreira "Mocinha de Zé Chicor" (95 anos), assinalou de que "tinha cartilha, tinha taboada, a gente estudava taboada pra dar decorada, palmatória pra apanhar, caroço de milho pra se ajoelhar em cima".
     Ao mesmo tempo em que a narradora expressa a forma de ensino, ficam evidentes características desta  formação escolar, como o "decorar" e o "punir". O primeiro onde o aluno não era  instigado à pensar, mas somente repetir o que já estava escrito. E o "punir", exercido através da palmatória e do ato de ajoelhar-se em caroços de milho.
      Nessa época ainda segundo depoimentos, o ensino "era por conta do governo". Os pais dos alunos não pagavam pelas aulas, mas era necessário adquirir farda e o material escolar. Assim, considerando, que a maioria sobrevivia através da agricultura, conclui-se que muitos não tiveram a oportunidade de estudar por falta de condições. Outro episódio bastante comum era o abandono escolar,  como foi o caso do Sr. Marcelino Pereira Silva (98 anos), que frequentou apenas  até a 2ª série, e depois largou os estudos para trabalhar na agricultura, juntamente com o pai, para prover o sustento da família. 
     Além de dar aulas pelo governo, Telina encontrava tempo para ministrar aulas particulares as demais pessoas que a procuravam. Também costurava  e bordava para si e para os mais próximos, cumprindo a máxima da Pia União que pregava que a ociosidade é a fonte dos vícios. (Manual da Pia União, 1926).
    Por ser tida como letrada para a época sempre era cotada como secretaria  nas associação religiosas em que participava, como as Filhas de Maria, Associação Franciscana, Zeladora do Coração de Jesus e Irmãs da Caridade (atual Pastoral da Saúde), chegando a alcançar o título de presidenta das Filhas de Maria em Assaré. Esse último encargo, lhe atribuía como já explicado, um papel de liderança e de respeito, à exemplo esse episódio relatado por sua irmã paterna, Terezinha Almeida (87 anos).
"A minhã irmã [Telina] ela apartava os homens brigando no meio da rua com as facas (..) lá no Quincuncá, e ela pegava as facas dos homens tudim. (..) Ela não tinha medo de nada, aí pegava as facas de tudim, dava conselho a tudim, e era pra tudo, quando terminasse aquelas briga, era pra todo mundo tá amigo. Madinha Telina ela era uma líder, uma lider no Araticum, a primeira vez que ela foi". 
   Faleceu em 10 de março de 2009, há apenas oito dias de completar 101 anos, sendo sepultada em Assaré, terra de seus antepassados. 

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FONTES DOCUMENTAIS: 
Manual da Pia União das Filhas de Maria: Trad. Dr. Ananias Corrêa do Amaral, Rio de Janeiro: Casa Cruz, 1926;

Livro microfilmado de Batismos da freguesia de Assaré n° 05 - 1869-1915, arq. digital: 4129292_00660 - DHDPG - Departamento Histórico Diocesano Pe. Antônio Gomes de Araújo, Diocese do Crato -CE;

Livro microfilmado de casamentos da freguesia de Assaré nº 15 - Abril 1919 a Nov. 1921, p, 80v/81, arq. digital: 4129532_02637 - DHDPG - Departamento Histórico Diocesano Pe. Antônio Gomes de Araújo, Diocese do Crato-CE. Nota: O matrimônio de Joaquim Pereira de Almeida e Julieta Filgueiras Amarante foi celebrado na residência dos pais da nubente, em Assaré, no dia 26 de maio de 1921, pelo Padre Emilio Leite Alváres Cabral. No assento consta que na época, Joaquim tinha 37 anos, ou seja, nascido em 1884, enquanto Julieta 27 anos (1894). Foram testemunhas: José Romeu de Carvalho e Júlia (ou Júlio) do Amarante Filgueiras; 

FONTES ORAIS:
Terezinha Almeida, professora aposentada e irmã da biografada. (87 anos). Entrevista realizada em 29 de setembro de 2018; 
Marcelino Pereira Silva, agricultor aposentado (98 anos) - Entrevista realizada em junho de 2019;
Maria Gertrudes Ferreira (95 anos), agricultora aposentada - Entrevista realizada em junho de 2019;

28 de abril de 2021

Memória fotográfica: Maria Arlina em foto ainda jovem

Maria Arlina - Foto cedida por Benedita
Maria Arlina Costa (in memoriam), em foto ainda jovem. Arlina pra quem não lembra era irmã de Francisca, moradora de Quincuncá. 

22 de abril de 2021

Fotografia relembra a grande cheia da Barragem de Quincuncá há 15 anos

Na foto Moacir, Dita e Sônia -  Imagem cedida por "Dita Feitosa".

     Em 31 de março de 2006, há 15 anos, foi registrada uma das maiores cheias da Barragem de Quincuncá. Após uma chuva de mais de 195ml (segundo pluviômetro de Natalício), o reservatório transbordou com toda sua força. O volume de água era tanto que a água escoou pela rua Celso Pereira, apelidada de "Rua das Bastas", chegando ainda a invadir os quintais das residências na Rua do Cruzeiro.

20 de abril de 2021

Domingos Alves Feitosa (1925-2005), em foto inédita na Barragem Enoch Rodrigues - Déc. 1970/80.

Seu Domingos em foto tirada na Barragem de Quincuncá- Déc. 1970/80
 Imagem cedida pela filha "Dita Feitosa". 

Domingos Alves Feitosa (1925-2005), em foto tirada na Barragem Enoch Rodrigues - Quincuncá. Estima-se que esse registro corresponda à década de 1970 ou início dos anos 80.
Na imagem podemos visualizar ainda quatro pessoas não identificadas banhando-se nas águas, além de se ter uma ideia das construções existentes nas proximidades do reservatório, sendo uma das poucos se não a única imagem capturada nesse ângulo, fato que a torna inédita. No canto esquerdo aparece também a "Chácara Dias", de propriedade de Seu Didias, hoje pertencente aos herdeiros.

16 de abril de 2021

Memória fotográfica: Gracinha de Raimundo Bezerra em foto de formatura da 8ª série - 1986

Gracinha em foto de formatura, 1986 - Cedido por "Dita Feitosa". 
Maria das Graças Bezerra "Gracinha" em foto de sua formatura na 8ª série - Ano 1986.. Nascida em 16 de abril de 1965, filha de Raimundo Alves Bezerra e Maria Raimunda da Conceição, ela é casada com Eronildes Ferreira (natural do Sítio São João - Farias Brito), tendo uma filha por nome Grazielly Bezerra.
Gracinha de Raimundo Bezerra como é conhecida, reside no Estado de São Paulo há várias décadas, atualmente habitando no município de Itaí, onde é proprietária de uma loja de roupas femininas.

Aproveitando esta ocasião a parabenizo pelos seus 56 anos. Muita saúde, Gracinha!

15 de abril de 2021

Memória fotográfica: Batismo de Rogério Fernandes de Lima - Anos 1980

Batismo de Rogério Fernandes - Imagem cedida por Durica Moreira
Quantas pessoas queridas reunidas em uma foto! Imagem capturada ao lado da Igreja de São José, em Quincuncá, entre finais de 1988 e início de 1989, por ocasião do batismo de Rogério Fernandes de Lima.
Neste registro temos seus padrinhos Luíza Moreira e João Matias e seus pais, Chico Teatonho e Dona Aureni, com Rogério ainda criança nos braços.

14 de abril de 2021

Memória fotográfica: Benedita Feitosa e Antônio Ferreira no Salão de Dier em 1988

Benedita e Antônio - Out. 1988 - Imagem cedida por Benedita "Dita". 

BENEDITA FEITOSA, filha de Seu Domingos e Dona Alaíde, e ANTÔNIO FERREIRA, filho de Raimundo Rosa e Dona Margarida, posam em frente a um quadro no famoso Salão de Dier Pereira, em Quincuncá. Imagem capturada em outubro de 1988, há quase 33 anos.

13 de abril de 2021

O poço que nunca secou: Narrativa sobre aspectos da vida de antigamente - Por Guilherme Pereira

Sunica tirando água do cacimbão
Sunica, ex-cunhada de Dona Marina retira água da cacimba - Imagem cedida por Marina & Nelzim. 
Na primeira postagem após o anúncio da reativação da página, quero rememorar à época anterior a implantação do sistema de abastecimento de água, período no qual as pessoas valiam-se de olhos d' água, açudes e cacimbões para obter a água necessária em suas atividades diárias.
Os cacimbões por sua vez são poços escavados que exploram a água do lençol freático. Tal empreitada além de ser muito arriscada, demandava um alto custo, não possibilitando que todos tivessem acesso, além do mais, não era em todo local que localizava-se uma "veia de água".
Na imagem em anexo, temos o cacimbão construído entre as atuais residências de Seu Nelzim e Seu Wilson, na Rua José Alves Costa em Quincuncá, que no meu entendimento é um dos mais antigos e ainda em utilização na comunidade.
Segundo depoimentos de João Ferreira Lima "João de Neura", filho de Joaquim Joca e Dona Estevam, antigos proprietários do local, o referido poço foi cavado pelo Sr. Chico Pirró (In Memoriam), tendo sido edificado provavelmente em 1958, ano de uma grande seca. Para a construção foi necessário o uso de bananas de dinamite para quebrar as rochas, permitindo o aprofundamento deste.
Na época ainda segundo João de Neura, foram cavados 68 palmos, que equivale aproximadamente a 15 metros, tendo o próprio também ajudado no assentamento dos tijolos.
Em setembro de 1987, quando o Sr. Manoel Alves de Souza "Nelzim" adquiriu parte da propriedade que compreende o cacimbão, foram cavados ainda vários palmos de profundidade, concluindo que esse líquido precioso está cada vez mais escasso.
Desde a época de sua construção até meados de 2007 (ano da implantação do sistema de abastecimento d' água), o cacimbão não só serviu aos seus proprietários, mas também a todos os moradores das redondezas, que fazendo uso de um carretel e de um balde, diariamente extraiam a água do fundo do poço, sobretudo para beber, por ser de boa qualidade.
É inegável que todo esse trabalho era muito sacrificoso, todavia fazia com que as pessoas valorizasse cada gota, evitando o seu desperdício.

12 de abril de 2021

Após mais de 01 ano e 03 meses, Blog de Quincuncá retorna à ativa: Leia o comunicado

Autor da página, Guilherme Pereira, e ao fundo imagem panorâmica de Quincuncá - Abril/2021

"O mundo dá voltas!", com essa expressão gostaria de narrar resumidamente parte do caminho percorrido pelo Blog de Quincuncá, sobretudo durante estes últimos meses.
Em 31 de dezembro de 2019, há mais de um 01 ano e 03 meses, anunciei a paralisação das publicações, fato que se deu pela ausência de apoio da antiga administração municipal e da pouca falta de reconhecimento da população.
Nesse período, apesar de não publicar, salvaguardo raras exceções, não medi esforços para enriquecer o acervo com novos registros e depoimentos.
Como já é do conhecimento de todos, desde janeiro, exerço a função de Coordenador de Cultura, cargo que me foi confiado pelo Sr. prefeito, Deda Pereira.
Tal encargo me responsabiliza o conhecimento e a valorização das práticas culturais presentes no município de uma forma geral. Ao retornar com a página quero deixar ciente, que esta continuará com os mesmos princípios, de abordar assuntos referentes à Serra do Quincuncá.
Por amor à minha terra, e tendo em vista estar de volta às minhas origens, reitero então neste dia, 12 de abril de 2021, o RETORNO das PUBLICAÇÕES nas páginas da internet e no Facebook. Data que marca também o aniversário de fundação deste trabalho, e o início de novos tempos. Um forte abraço à todos!
Atenciosamente,
Guilherme Pereira, autor e administrador do Blog de Quincuncá.