O cemitério do Tabuleiro é um dos cemitérios esquecidos da Serra do Quincuncá. Foto: BQ. |
A morte pode ser compreendida como o fim dos processos vitais e a perda da unidade funcional do organismo (REZENDE, 2014, p. 39). Desde a antiguidade, rituais de passagem ou despedidas, podem ser observadas, na idade média por exemplo, que compreende 476 d.c a 1453, se constituiu como um divisor de águas na espacialização dos túmulos, contudo, os rituais fúnebres e os lugares escolhidos para essa prática variaram até se destinar um local especifico. (SILVA, 2021, p, 16)
No final do século XIX e início do século XX, influenciadas pelo discurso médico-sanitarista, a sensibilidade a despeito da morte e da forma de lidar com o corpo sofreram profundas modificações. A separação entre Estado e Igreja, o fim do padroado e a secularização da morte ganham destaque, dando ênfase a criação de cemitérios extramuros e a proibição de sepultamentos no interior das Igrejas no Ceará, a partir da segunda metade do século XVIII. (FILHO, 2016, p, 02) Medidas que baseavam-se nos ideais higienistas Europeus, que buscavam mudar os hábitos de higiene e costumes da população, frente as novas epidemias (SILVA, 2021, p, 17-18).
Tal concepção da época, era fundamentada na chamada teoria miasmática, estudos que orientaram a maioria das medidas de combate as epidemias no século XVIII e parte do século XIX, segundo a qual acreditava-se que as doenças eram transmitidas pelo ar, originadas das sujeiras nas cidades insalubres e dos gases da putrefação de cadáveres humanos e de animais. (MASTROMAURO, 2011, p, 01-06)
Assim como em outras regiões, o Cariri Cearense vivenciou muitas epidemias, como a de cólera, na década de 1860, responsável por centenas de mortes. Outra doença de grande letalidade entre 1877/79, a varíola ou bexiga-braba como era popularmente chamada, tinha esse nome por causar pústulas, isto é, bolhas cheias de pus na pele, que quando não provocavam a morte deixavam sequelas como a cegueira. Como se não bastasse, ainda nas primeiras décadas do século XX, a pandemia de gripe espanhola causada pelo vírus da influenza dizimou cerca de 50 milhões de pessoas em todo o mundo, segundo estatísticas. As secas que assolaram o Ceará também deixaram um rastro de miséria e desnutrição, cenário suscetível para doenças e um maior número de óbitos, sobretudo da população menos favorecida, dado a precariedade dos serviços de saúde. (JUNIOR, 2017, p. 63-72)
Levando em consideração o que se pregava a teoria miasmática, os corpos de pessoas que sucumbiram a doenças dessa natureza eram habitualmente sepultadas no mato, sem jazidos ou lápides suntuosas, apenas uma cruz, elemento simbólico da morte (SILVA, p, 23), era fincada, fazendo referência ao local da cova, muitas vezes, coberta com um amontoado de pedras. Isto porque acreditava-se que os gases pestilentos ficavam retidos na cova, que se uma vez aberta espalharia os temidos miasmas, causadores de doenças, à vista disso, o Cemitério do Quincuncá, fundado entre o final do século XIX e início do século XX, serviria apenas para o sepultamento de pessoas falecidas de velhice e de outras doenças consideradas não contagiosas.
Dado o crescimento urbano e a própria mudança do imaginário no que diz respeito a transmissão de doenças, tais cemitérios foram soterrados, e consequentemente caíram no esquecimento, dando espaço inclusive a construções. À seguir, um levantamento dos seis Campos Santos localizados nos arredores do Distrito de Quincuncá, município de Farias Brito-CE, infelizmente são poucos o que ainda preservam um marco em alusão aos que foram sepultados.
- CEMITÉRIO DO AÇUDE VELHO
Francisco Pereira "Fransquim", sinaliza o local da entrada do Cemitério. |
Localizado no Sítio de mesmo nome, há cerca de 02km do Distrito de Quincuncá, o espaço segundo narradores teria sido um dos primeiros da região a abrigar os despojos mortais dos nossos antepassados. Em 1932, por ocasião da grande seca que assolou o Ceará, centenas de anjinhos, termo que referia-se à crianças, morreram vítimas de fome e doenças, sendo sepultadas no local. Ao que tudo indica, durante o período que o Cemitério do Quincuncá esteve fechado de 1935 a 1948, alguns cadáveres também foram transladados e sepultados nessa área.
A área marcada no passado pela existência de um enorme cruzeiro talhado na madeira, que hoje não existe mais, já situou uma plantação de arroz, e na atualidade é dedicada ao cultivo de grama, para os animais.
- CEMITÉRIO DA SANTA CRUZ
- CEMITÉRIO DO JUCÁ
- CEMITÉRIO DA SERRA
- CEMITÉRIO DAS AREIAS
- CEMITÉRIO DO TABULEIRO
O cemitério fica nas proximidades da casa de Rosivânia. |
Nas proximidades da residência de Rosivânia Dias no Sítio Tabuleiro - Serra do Quincuncá, também encontrei referências a um Cemitério local, dedicados exclusivamente ao sepultamento de recém-nascidos. O último sepultamento conforme relatos ocorreu no ano de 1998.
____________
FONTES:
Entrevista realizada com Osmundo Pereira em 28 de outubro de 2022;
Entrevista realizada com Francisco Alves Pereira em 29 de outubro de 2022;
Entrevista realizada com Antônio Fonseca Dias em 31 de outubro de 2022;
Entrevista realizada com Antônia Moreira Dias em 01 de novembro de 2022.
Entrevista realizada com Maria Estevam de Souza em 02 de novembro de 2022.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
Nenhum comentário:
Postar um comentário