Cortejo fúnebre passando defronte à casa de D. Lindalva. Quincuncá, 1980. Acervo: Vanessa Pereira |
A comemoração do dia das mães possuí origem bastante remota, aludindo a Grécia e Roma antiga, quando gregos e romanos reuniam-se nas festas de primavera, para celebrar o culto as divindades mães. Apesar da comemoração ter se expandido gradualmente, sendo festejada em quase todas as partes do mundo, esta celebração só se popularizou a partir de 1914, nos Estados Unidos, através dos esforços de Anna Jarvis, para homenagear a sua mãe falecida. No Brasil a data é comemorada oficialmente no segundo domingo de maio, regulamentada pelo decreto presidencial nº 21.366, no governo de Getúlio Vargas. (DIANA, DANIELA, 2023).
Neste dia, é comum que mensagens, flores, presentes e outras manifestações de afeto sejam dirigidas a figura materna com vista a homenageá-la. Em Quincuncá, o que era pra ser mais um ano de boas recordações, se tornou um "dia de juízo", para a família de Jesus Nativo Pereira Leite, isto porque a morte tomou parte na cerimônia, mesmo significando um ciclo da vida, as circunstâncias em que ela se deu marcou a memória dos Quincuncaenses.
Nascido no Sítio Barrocas, município de Assaré-CE, no dia 08 de setembro de 1964, Nativo era filho de Marina Pereira Leite e Saturnino Pereira Borges "Tunim", sendo o caçula de uma família de quatro irmãos: Antônio (1947), Francisca (1948-2004) e Maria (1952). Ainda na infância, mudou-se com os pais, por volta de 1972, para o Distrito de Quincuncá, Farias Brito-CE.
Nativo com cerca de 03 ou 04 anos. Foto: Maria Leite. Melhorada no App. MyHeritage. |
Assim como toda e qualquer criança, Nativo gostava de brincar com os amigos, mas também apreciava momentos de recolhimento e silêncio. Em depoimento, sua irmã, Maria Leite, o caracterizou como tendo um carinho especial por idosos, animais e a natureza, sendo muito dedicado aos estudos, razão pelo qual cursou o primário, como era chamado o período de 1ª e 4ª série, àquela época, nas Escolas Reunidas de Quincuncá (atual EEF Cosmo Alves Pereira), continuando sua formação na Escola Getúlio Vargas na sede do município e em seguida no Colégio São Francisco de Assis, em Juazeiro do Norte-CE. Tudo parecia ir bem, quando um triste episódio ceifou a sua vida.
Na manhã do dia 11 de maio de 1980, domingo das mães, o jovem que tinha 15 anos, foi dado como desaparecido. Sua mãe aflita então solicitou ao morador, Pedro Natalício, que colocassem um aviso no serviço de som da Igreja de São José. Em post do Blog de Quincuncá publicado em 2018, Maria de Fátima Ferreira, narrou a forma de como se veiculou o anúncio: "Atenção, Nativo, o carro já vai pra Farias Brito e sua mãe está a sua procura", palavras que segunda ela nunca saíram de suas lembranças. O carro que a depoente se refere nesse relato, trata-se de um veículo da Prefeitura que tinha como destino a sede de Farias Brito, onde Nativo pegaria outro transporte para frequentar as aulas no dia seguinte, na Cidade de Juazeiro do Norte.
Barragem Enoch Rodrigues transbordando, em registro de 01/05/2023. |
Na época, a comunidade se mobilizou nas buscas em possíveis locais onde estaria, mas após conversas com moradores, constataram que o último espaço onde ele havia sido visto foi na parede da Barragem Enoch Rodrigues. A partir de então, as buscas se concentraram naquelas imediações, reunindo grande quantidade de pessoas. Em uma última tentativa de localizar o corpo, pessoas mais experientes sugeriram a realização de um ritual antigo, que consiste em colocar na água uma cuia com uma vela acesa, na crença de que o lugar onde ela parar indica a localização exata do corpo. Coincidência ou não, o certo é que após feita a simpatia, moradores conseguiram achar Nativo, porém já sem vida, uma cena que não será esquecida facilmente por aqueles que presenciaram o triste ocorrido.
No dia seguinte, seguindo os ritos cristãos, seu corpo foi transladado da residência de seus pais à Rua Ladislau Pereira, onde acontecera o velório até a Igreja de São José, acompanhado de alunos(a), que levavam coroa de flores e cartazes. Na chegada à Igreja, foi celebrada a Missa, pelo então pároco, José Wilton Leite. Um dos momentos mais marcantes segundo narradores, foi quando a assembléia em um só coro cantou: "Caminhando e cantando", (Pra não dizer que não falei das flores), de Geraldo Vandré. Terminado a celebração eucarística, seguiu-se o cortejo fúnebre até o Cemitério Padre Cícero, onde Nativo foi sepultado sob comoção geral.
Lembrança do 7ª dia de Nativo. Acervo: Pedro Natalício (in memoriam) & Diva, digitalizado pelo BQ. |
_______________________________________________
FONTES:
Nenhum comentário:
Postar um comentário