23 de fevereiro de 2023

Uma receita de gerações: O café de Dona Tereza no Quincuncá & sua genealogia - Por Guilherme Pereira.

Teresa Maria de Jesus, em foto ampliada, datada de novembro de 1954 - Cedida por sua filha, Nazinha.

Desde a sua introdução nas primeiras décadas de 1700, o café têm feito parte do cotidiano dos brasileiros, representando durante séculos, o produto de maior exportação da economia do País. Os primeiros indícios dessa cultura no Brasil apontam para 1727, quando as primeiras mudas foram cultivadas por Francisco de Melo Palheta, no Pará, e a partir de então, foi expandindo-se gradualmente pelo litoral até alcançar as províncias do Rio de Janeiro e São Paulo, onde a produção cafeeira encontrou clima e solo propício ao seu desenvolvimento, utilizando-se da mão de obra escrava, para a produção em larga escala. (PINTO, Tales Santos/Brasil Escola).

No Brasil, os primeiros "cafés", estabelecimentos dedicados ao consumo da bebida, foram instalados na segunda metade do século XIX, nas cidades do Rio de Janeiro e São Paulo, províncias que concentravam até então a maior produção do grão. Considerados espaços mais democráticos, os cafés inicialmente eram vistos por seus frequentadores, como um lugar propício ao debate de questões políticas, literárias e artísticas. (FRANÇA, Iris Ferreira  et al, 2010 apud MARTINS, 2008). 

Em resumo, a cultura e o próprio consumo do café, sofreram transformações ao longo dos anos, sobretudo a partir da década de 1940, com o surgimento das máquinas de café expresso, que não só significaram uma revolução na forma de consumi-lo, mas uma oportunidade de implantação e revitalização de novas cafeterias nas cidades de grande e médio porte a partir dos anos 1990 (FRANÇA, Iris Ferreira et al, 2010). 

Em Quincuncá, Distrito do município de Farias Brito-CE, há relatos de dezenas desses estabelecimentos em funcionamento durante o século passado, um dos primeiros que se tem notícias, e que será tema desse artigo, pertenceu a SRA. TEREZA MARIA DE JESUS, e ficava localizado em uma banquinha instalada nas imediações da residência que pertencera a Israel Gonçalves & Criselíades Ribeiro, atualmente de propriedade da Sra. Rosy Feitosa, ao lado da Igreja de São José. 

O espaço comercializava o tradicional "cafezinho", que era feito ali mesmo em fogo de lenha improvisado, além do pão de ló, receita que se tornou um símbolo para a família, e que basicamente têm como ingrendientes: ovos, açúcar, goma de mandioca e fermento. Feito de forma totalmente artesanal, a massa era preparada em um pilão, e em seguida assada em latas de sardinha ou doces, e postas à venda, comercialização que ocorria tanto em sua própria casa, como barraca. Era comum também ela transportar esse quitutes à localidades vizinhas quando haviam festas. 

Natural de Águas Belas no Estado de Pernambuco, Dona Teresa era descendente de Indígenas. Casada com Joaquim Siriaco da Silva (ou Antônio Siriaco dos Santos), era a mãe de seis filhos: Manoel, João, Maria, Izabel, José e Nazinha, esta última ainda em nosso meio aos 94 anos. Conforme consta em seu assento de óbito, eram seus genitores, Antônio Viana dos Santos e Maria Antônia da Conceição. Não foi possível conhecer no entanto sua data de nascimento, todavia, levando em conta os dados de seus descendentes, e a informação transmitida por sua filha, é provável que ela tenha nascido em 1886. 

De acordo com Maria Nazinha, sua mãe chegou á Vila de Araticum (atual Quincuncá), acompanhada de seus irmãos, já estando viúva. Ainda segundo a narradora, o motivo que trouxe Dona Teresa e sua família a fixar moradia na comunidade, foi uma orientação do Padre Cícero Romão Batista (1844-1934), quando na ocasião sua mãe, o procurou pessoalmente em Juazeiro do Norte-CE, buscando um "lugar pra eu criar meus filhos", questionamento que teve como resposta, segundo Nazinha: "Ele disse: Quincuncá, pode ir pra lá que tem legume, que legume lá é feijão, arroz né, dá até em cima das pedras". 

Chegando à comunidade, Dona Teresa dedicava-se à agricultura, também atuando como costureira, na fabricação de peças de crochê. Quanto ao café, não sabe-se em que época exata ela começou, mas podemos entender essa ocupação como uma complementação de sua renda, visto as dificuldades que a época impunha. Alguns indícios levam a crer que já na década de 1930 ela comercializava, ofício em que permaneceu até 1953, quando mudou-se com sua filha, Nazinha, para São Paulo, e mais tarde para Potengi, também no Ceará, onde seu genro trabalhou na construção da Igreja Matriz, Hospital e Biblioteca da Cidade, município onde Teresa faleceu às 11:00h, do dia 15 de dezembro de 1963, aos 77 anos, sendo sepultada no Cemitério Público daquela urbe. 

A seguir, alguns apontamentos da genealogia da família. Convém destacar, que alguns dados estão incompletos, devido a falta de informações, o que pretendo superar com o tempo, a partir de novos encaminhamentos. 

GENEALOGIA DE TEREZA MARIA DE JESUS & ANTONIO SIRIACO DOS SANTOS

-FILHOS E NETOS- 

1.0 - Manoel Timóteo dos Santos "Manim" (*15/08/1901 - +18/02/1963), casado com Severina Maria Joaquina "Dona Bibiu" (1898-1975), pais de:

  • Francisca Timóteo da Silva "Chiquinha". (13/02/1923 - 21/03/2013);
  • Maria Lilia Timóteo (12/01/1925 - 03/08/1998);
  • Antônia Timóteo (28/11/1928 - ?);
  • Terezinha Timóteo (in memoriam);
  • Noêmia Timóteo (17/05/1936-?);


2.0 -  João Timóteo dos Santos "João Tereza" (*19/04/1902 - 08/01/1981), casado com Gertrudes Gonçalves da Silva "Tida"(1907-1990), pais de: 

  • José Duca Deocinio (05/02/1935);
  • Maria Moreira Arraes "Marieta" (08/10/1938 - 14/07/2018)
  • Luíza Moreira de Souza (14/04/1941 - 11/03/2018)
  • Antônio Moreira de Souza (15/03/1943). 
  • Teodorica Moreira de Souza "Durica" (03/02/1946). 


3.0 - Maria Teresa de Jesus "Maria Dino" ou ainda "Mãe Lia" (*03/10/1904 - +18/06/1990) - Casada com Manoel Dino da Silva, pais de:

  • José Dino Sobrinho (17/12/1919 - 10/03/1997); 
  • Maria Brasilina de Jesus "Dona Nega" (07/07/1921-2002); 
  • Antônia Maria de Jesus (11/04/1924 - 18/04/2015);
  • Francisca Maria de Jesus "Chiquinha" (21/12/1926-28/01/2021);
  • Estevam Dino da Silva (28/01/1928 -06/01/2020);
  • Antônio Dino da Silva (29/11/1932-23/05/2018);
  • Terezinha Dino da Silva "Tetê" (11/02/1934); 
  • Francisco Dino da Silva "Chico Dino" (09/02/1942); 


4.0 - Isabel Timóteo dos Santos, casada com Severino, pais de: (Apenas apelidos ou primeiro nome): 

  • Vital (Peão)
  • Francisco (Chico)
  • Zuquinha
  • Dorico
  • Maroto
  • Antônia
  • Bastinha
  • Terezinha 


5.0 - José (faleceu ainda jovem, não chegou a constituir família). 


6.0 - Maria Nazinha Timóteo da Silva, nasceu em 12 de junho de 1928, em 1953 se casou com Antônio Gonçalves da Silva "Totonho", pais de:

  • José Tadeu da Silva (1954);
  • Maria Aparecida da Silva (1955);
  • Terezinha Gonçalves Acenso (1957);
  • Etelvina Gonçalves da Silva (1958);
  • Francisco Gonçalves da Silva (1960);
  • Luiz Gonçalves da Silva (1964);

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FONTES:

Orais:

Entrevista realizada com Maria Nazinha Timóteo da Silva, em 06 de maio de 2018. 


Documental: 

Cartório do 1º Ofício e Registro Cívil de Potengi-CE

  • Livro de óbitos nº 08, fl 37, nº 1681 (Óbito de Tereza Maria de Jesus);

Cartório de Registro Civíl do Distrito de Quincuncá, Cartório Moreira do 1º Ofício - Farias Brito-CE. 

  • Livro de óbitos nº 04, p, 26 (Óbito de Manoel Timóteo dos Santos);
  • Livro de obitos nº 06, p, 171 (Óbito de João Timóteo dos Santos);


Websites:

PINTO, Tales dos Santos. "Raízes do café no Brasil"; Brasil Escola. Disponível em: <https://brasilescola.uol.com.br/historia/o-cafe-no-brasil-suas-origens.htm> Acesso em 25 de jan. de 2023.


Referências bibliográficas:

FRANÇA, Íris Ferreira de; BARBOSA, M. L. A. Evolução das Relações de Consumo do Café e de Serviços de Cafeteria In: VII Seminário da Associação Nacional Pesquisa e Pós-Graduação em Turismo - Universidade Anhembi Morumbi – UAM/ São Paulo/SP, 2010, p. 8-9. 

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